Futebol de bancada

Opinão de um mero espectador de bancada

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Jogadores subvalorizados

26.03.2020

Já pararam para pensar quantas vezes dizemos mal de um jogador? Quantas vezes criticamos os seus erros e raramente pensamos o que de fabuloso ele nos deu?

A vida de um jogador de futebol é assim. Não interessa se tens uma percentagem de 99% de passes corretos durante um jogo, se depois falhas um passe fundamental que dá origem a um golo da equipa adversária.

Quando uma equipa goleia, no dia seguinte iremos falar sobre os jogadores que marcaram e assistiram os golos, mas raramente iremos falar sobre os seus suportes e do processo defensivo.

Os jogadores subvalorizados costumam ser os jogadores que, normalmente, dão tudo pela equipa, seja com ou sem bola, mas que passam despercebidos.

1.        Piqué

 Muitos de vocês estão a questionar-se sobre esta minha escolha porque claramente é um dos centrais mais famosos do mundo. No entanto, acho que nunca devem ter reparado algo muito interessante sobre este defesa central. Já ouviram algum comentador dizer que Piqué fez uma exibição incrível ou que garantiu a vitória para o Barcelona? Se ouviram, considerem-se sortudos, porque é bastante raro. Normalmente, os comentadores estão mais interessados em falar sobre um defesa quando esteve pior num jogo do que melhor. É interessante como dão o valor a Lenglet quando o Barcelona não sofre golos mas não conseguem dar a Gerard Piqué. O que muitos se esquecem é que o defesa central internacional espanhol tem uma enorme qualidade em termos de passe, saída de bola, velocidade e inteligência. Claro que na sua carreira já cometeu imensos erros, mas qual é o defesa central que não cometeu? A sua calma no jogo é algo de louvar, pois consegue sair de zonas de pressão com grande facilidade, mas, pelo contrário, a sua descontração leva a que exista também desconcentração em vários momentos do jogo. Há comentadores que afirmam que Piqué não é jogador para o Barcelona, principalmente nestes anos de Valverde ao comando da equipa catalã, mas o problema defensivo da equipa não se devia a um jogador. Devia-se a uma organização defensiva deficiente por parte da equipa. Não é falado como muitos jovens defesas promissores, como Van Dijk ou a defesa imperial da Juventus, mas Piqué não é um mau defesa central. É um dos melhores do mundo da atualidade e merece mais respeito.

2.       Tarantini

O que está aqui a fazer um jogador do Rio Ave? Este não é um jogador normal, não é mesmo. Apresenta um estilo de jogo e um pensamento em cada momento de jogo muito acima da média do nosso campeonato. É um jogador feito, tem 36 anos, mas muito futebol para oferecer. Para além de jogador de futebol, é doutorado em Ciências do Desporto na Universidade da Beira Interior. É capitão de equipa e fundamental no estilo de jogo da equipa vila condense treinada por Carlos Carvalhal. Ao longo de todos estes anos ao serviço do Rio Ave na Primeira Liga, nunca lhe deram o devido valor e nunca conseguiu sair para um clube de patamar superior, muito também pela sua idade – infelizmente chegou tarde ao primeiro escalão do futebol português. Com os seus 36 anos, ainda nos apresenta muito futebol e é um privilégio vê-lo jogar. O momento é fundamental no futebol e, Tarantini, não teve o seu.

3.       Ricardo Esgaio

Sem oportunidade de calçar na equipa titular do Sporting, Ricardo Esgaio teve a oportunidade de rumar ao Sporting de Braga para relançar a sua carreira ainda numa jovem idade. O português desempenhou funções como extremo, mas foi como defesa direito que realmente começou a mostrar o seu potencial. Hoje em dia é um jogador experiente, e chegou ao ponto mais alto de forma da sua carreira com Rubén Amorim, jogando como médio direito ou defesa direito (no processo defensivo). Assumindo-o como defesa direito, considero Esgaio como um dos melhores na Liga NOS nessa mesma posição, onde, à sua frente, só consigo encontrar Corona – também adaptado a essa posição. Encontra-se no momento certo de dar um passo em frente na sua carreira e procurar um novo clube onde possa mostrar tudo aquilo que tem mostrado esta temporada ao serviço do Sporting de Braga.

 

Estes 3 jogadores têm algo em comum - são jogadores em que as suas posições obrigam a vários papéis defensivos - o que, por sua vez, os torna vulneráveis a várias críticas quando algo não resulta. O jogador subvalorizado é aquele que, normalmente, não faz golos, é o jogador que se move muito bem posicionalmente e sabe ocupar os seus espaços. É o jogador que não precisa de ser comentado efusivamente para percebermos que é realmente bom.

No futebol existirá sempre erros, falta saber quem comete menos.

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O efeito COVID-19 no futebol

25.03.2020

Já lá vão cerca de 2 semanas sem jogos de futebol. O mundo está parado mas o futebol nunca.

Os clubes, empresários, treinadores e jogadores continuam no ativo, seja a treinar em casa ou a negociar futuras transferências. Não é por acaso que em finais de março já se ouve falar tanto sobre transferências. A época está praticamente acabada, até porque não se sabe se irá ser realizado qualquer jogo até junho. É tempo de as direções dos clubes entrarem em ação e estudarem, o mais rapidamente possível, estratégias para combater esta crise financeira provocada pelo Covid-19.

As receitas dos bilhetes para os jogos são uma grande fatia dos rendimentos obtidos por clubes, principalmente pelos clubes portugueses. Prevendo que não ocorrerá qualquer outro jogo esta época, estamos a falar então de 3 meses sem competição, sem receitas, ou seja, sem dinheiro nos cofres.

Para além disto, os jogadores irão ficar sem competição durante 3 meses (na melhor das hipóteses) e não é novidade para ninguém que treinar em casa não exige o mesmo esforço do que treinar no relvado com uma equipa técnica ao teu lado a puxar por ti. Estes 3 meses iriam significar algumas oportunidades para uns jogadores - menos oportunidades para outros como é certo - mas uma coisa é indiscutível: o valor dos jogadores irá descer com esta crise. Porquê? 3 meses com falta de rendimento, fadiga e até peso a mais em alguns casos. Que clube irá contratar um jogador sem saber qual é a sua verdadeira forma física e aquilo que pode dar? Não se trata de uma lesão de 3 meses mas é igualmente grave porque os jogadores não terão disponibilidade física para os primeiros jogos da próxima época visto que ainda estarão numa fase de recuperação de forma - seja ela física ou mental.

Ou seja, quando existem dúvidas sobre a contratação de um jogador, é claro que o interesse do clube que o quer contratar é menor e menor será o valor disposto a pagar por esse mesmo jogador.

Por exemplo, um jogador que tenha feito 10/15 jogos esta temporada (muitos na condição de suplente) não pode dar certezas nenhumas sobre a sua condição a um clube que o queira contratar.

Agora vamos pensar nas competições europeias: quem será declarado vencedor desta edição da Liga dos Campeões ou da Liga Europa? Ainda vamos nos quartos de final e ainda não se sabe praticamente nada. Por quem serão distribuídos os prémios monetários? Os clubes e entidades reguladores continuarão a receber as receitas televisivas? As empresas responsáveis pelas publicidades dos equipamentos e de estádios irão continuar a pagar aos clubes sendo que não terão qualquer visibilidade?

Muitas dúvidas que só serão respondidas daqui a uns tempos mas uma certeza: isto é uma crise financeira e económica no futebol.

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O Sporting de 2020/2021

25.03.2020

Toda esta análise é feita em base de presunções e não apenas factos, é baseado em opiniões e tudo o que direi poderá não estar de acordo com a realidade até porque eu não controlo os treinos e o mercado de transferências.

Frederico Varandas aposta tudo em Rúben Amorim quando paga 10 milhões de euros (segunda transferência mais cara de um treinador de sempre) num treinador com apenas 12 jogos realizados, entre os quais convém referir que obteve 5 vitórias sobre os 3 grandes. As palavras de Varandas na apresentação de Rúben Amorim foram muito contestadas, principalmente pelos adeptos leoninos, mas uma coisa é totalmente certa: “um treinador pode pegar num jogador da equipa sub-23 e valoriza-lo ao ponto de o vender por 30 milhões”. Estamos a falar de um treinador, já como acontecia com Silas, que não tem o grau exigido do curso de treinador para jogar a primeira liga. Portanto, podemos dizer que é uma aposta fortíssima por parte do Sporting já que estamos a falar de 1/3 do seu orçamento. Vamos deixar-nos de valores e polémicas e vamos analisar aquilo que se espera do Sporting de Rúben Amorim.

Vamos pressupor que Rúben jogará com a mesma formação que jogou com a equipa do Braga, ou seja, um 5-2-3 ou, se preferirem, 3-4-3. Depende se estamos a falar do processo defensivo ou ofensivo, visto que os laterais são bastantes subidos no processo ofensivo e, no momento defensivo, juntam-se à linha defensiva composta por 5 elementos.

A aposta na formação será, possivelmente, outro foco do clube leonino e de Amorim, já que Amorim convocou para o primeiro treino alguns jogadores sub-23.

No Braga, Amorim tinha algo muito particular na defesa que eu admirava bastante. O terceiro central era Tormena, que se tornava um defesa direito no processo ofensivo, dando mais liberdade a Ricardo Esgaio para atacar a profundidade na linha lateral e, consecutivamente, mais espaço seria dado a Francisco Trincão na zona central, de forma a que o jovem extremo procurasse dar melhor uso ao seu pé esquerdo. O Sporting tem 4 centrais dos quais 2 deles  , muito possivelmente, estarão de saída: o patrão Mathieu (dos melhores centrais na primeira liga mas com 36 anos) e também Tiago Ilori (que dá muitas poucas garantias e comete ainda bastantes erros). Ou seja, sobram Coates, Neto e o mais recente “reforço” de Amorim, Eduardo Quaresma (defesa central das camadas jovens do Sporting, com 18 anos e bastante promissor). Se fizeram bem as contas, o Sporting começará a época com 3 centrais. É necessário que o Sporting procure pelo menos mais um central no mercado ou procure subir mais um “menino” dos sub-23 que dê as garantias necessárias. Digo um porque acredito que Rubén Amorim procurará que Ristovski (caso não se transfira no mercado de verão) jogue como terceiro central no momento defensivo e colocará Rosier como lateral. Sendo assim, o Sporting continua com poucas unidades para essas posições  o que pode levar a uma ida ao mercado ou, novamente, uma aquisição na equipa sub-23. Sem qualquer entrada, a defesa do Sporting é composta por Rosier, Ristovski, Neto, Coates e Acuña. Este último é perfeito para o pedido por Amorim, já que oferece enorme qualidade no processo ofensivo e é extremamente competente nos momentos defensivos. Outra das possibilidades pode ser a colocação de Borja a defesa central, ou seja, substituindo Ristovski na linha de três. Borja jogaria mais pela esquerda e faria de lateral esquerdo no processo ofensivo e daria a Acuña mais liberdade para poder subir pelo corredor. Aqui irá depender da zona onde Amorim sente que vai ser mais capaz de criar perigo.  A defesa estará às ordens de Luís Maximiano, forte aposta da formação leonina.

Doumbia, Eduardo, Battaglia, Francisco Geraldes, Miguel Luís e Wendel são, neste momento, os homens do meio campo. Para além destes irá juntar-se ao plantel Palhinha, de regresso do empréstimo ao Sporting de Braga, e ainda Daniel Bragança, jovem promessa que tem impressionado na segunda liga ao serviço do Farense . Notícias apontam que Eduardo poderá estar de saída de Alvalade, ou seja, o Sporting fica com 7 homens para o meio campo que será construído normalmente por 2 homens. Caso Palhinha pretenda continuar no Sporting, julgo que o seu lugar é garantido, visto que é exatamente o tipo de jogador que Amorim procura para o meio campo: robusto, inteligente, bom passe longo e forte no desarme. Doumbia deve ficar por Alvalade visto ser um jogador com ainda bastante potencial, dada a sua idade, e acredito que Battaglia seja o eleito a sair. O segundo homem do meio campo certamente será Wendel. É atualmente um dos melhores jogadores do Sporting e encarregar-se-á de transportar o jogo para a frente. Terá mais liberdade e mais espaço, visto que o Sporting jogará sem um “10”. As outras opções deverão passar por Miguel Luís e Daniel Bragança, dois meninos da casa, que terão de provar o seu valor para conseguir um lugar na equipa principal. Acredito que Francisco Geraldes sairá do Sporting em definitivo para um clube de primeira liga portuguesa, com especial destaque para o Rio Ave, clube por onde teve uma passagem por empréstimo. Caso Wendel não se transfira no mercado de verão, esta zona do campo do Sporting é a que menos necessita de ser reforçada porque apresenta elementos com uma enorme qualidade.

O “ataque” é a zona do campo em que mais dúvidas existem. Por um lado, podemos ter uma procura de jogo interior por parte dos extremos e deixar as extremidades para os laterais, mas, por outro lado, os extremos podem procurar as triangulações com os laterais pelas extremidades e chegar a boas zonas de cruzamento. Nesta situação é fundamental ter jogadores para ambos os tipos de jogo - até porque será fundamental ter várias soluções, com diferentes tipos de qualidade nos jogadores. Se procurarmos o jogo interior, a composição deverá passar por Vietto, Luiz Phellype / Sporar e outro homem na extremidade direita, provavelmente Plata. Com Matheus Pereira fora do baralho, visto que é quase certa a sua transferência para um clube inglês, sobram Rafael Camacho e Jovane Cabral, que serão responsáveis pelos últimos lugares das extremidades da equipa. Bolasie e Jesé devem retomar aos seus clubes, depois da sua passagem por empréstimo pelo clube leonino. Ruben Amorim pode ir mais longe e tentar jogar com Vietto a ponta de lança ou falso 9, mas, normalmente, este tipo de posição não favorece o estilo de jogo de Vietto, para além de que o Sporting iria deixar dois pontas de lança no banco. É fundamental que Vietto jogue no plantel titular mas tem de procurar espaços entre as linhas defensivas e procurar o jogo interior para poder potenciar o seu remate forte. O Sporting necessita de um 9 fixo, de forma a que este arraste os defesas centrais da equipa adversária para que Vietto apareça e faça a diferença - tanto pelo seu remate como pelo último passe, que pode ser facilmente aproveitado pelas costas do defesa lateral da equipa adversária (que estará ocupado com Vietto porque os centrais focaram-se no 9 fixo, ou pelo menos isto deveria de acontecer para que a tática seja bem sucedida).

As equipas de Amorim normalmente praticam um futebol positivo, com a procura pela posse, mas com rápidos ataques à profundidade. São bastante compactas no momento defensivo e não têm receio de bombear bolas para a frente quando pressionados. São equipas que normalmente compreendem todos os momentos de jogo e sabem quando pressionar e quando baixar a linha defensiva.

Possíveis entradas:

-Ricardo Esgaio: ótima opção para o corredor direito, conhece o treinador e foi formado no Sporting.

-Taremi: conhecido na primeira liga portuguesa com provas dadas da sua enorme qualidade. Só acho que faria sentido a sua transferência caso Luiz Phellype se transfira.

-Karius: guarda-redes com um salário elevado e uma qualidade mediana (não compensa o elevado risco que acarreta), para além de que Luís Maximiano já deu provas suficientes que merece o lugar na baliza leonina. Talvez uma contratação de um guarda-redes suplente fosse algo a considerar.

 

Possíveis saídas:

-Renan

-Mathieu

-Ilori

-Eduardo

-Francisco Geraldes

-Battaglia

-Luiz Phellype

-Matheus Pereira

 

Filosofias implementadas:

- Aposta na formação;

- Estilo de jogo misto (posse e contra-ataques fortíssimos);

- Saída de bola com 2 defesas mais um médio defensivo (o terceiro defesa passará para um dos corredores para dar largura);

- Rotação dos homens mais avançados para dar frescura e velocidade à equipa;

- Futebol apoiado;

- Foco na leitura do jogo, dos vários momentos e das dinâmicas entre jogadores.

 

Objetivos:

- ganhar alguma das taças internas;

- terceiro/segundo lugar na Liga NOS (começar a fazer frente a FC Porto e Benfica);

- formação de jovens jogadores (criação de valor).